Conta-se que havia um criador de pássaros cantores.
Ele tinha um viveiro enorme, bem ventilado e ensolarado, com sombras
suficientes, enfim, bem amplo e cuidado. O ambiente propício para
que seus passarinhos, dos mais diversos tipos, tamanhos e cores,
desenvolvessem o canto.
Alguns destes passarinhos eram detentores de prêmios e
troféus.
Um dia, nasceu um passarinho, que, como todos os
outros, foi crescendo aprendendo junto com os outros a cantar.
Aos poucos foi desenvolvendo e melhorando o seu canto.
Foi ficando cada vez mais bonito e forte.
O criador começou a desenvolver um carinho e admiração
especiais por ele.
O passarinho prodígio ganhava mais e mais concursos,
mais e mais prêmios.
Parecia que a sua capacidade de melhorar nunca atingia
o limite.
Então, uma coisa estranha começou a acontecer, quando
o passarinho especial começava a cantar, o fazia com tanta
intensidade, tanta força e beleza, que todos os outros passarinhos
do viveiro se calavam.
Como a vida de um passarinho é cantar, os que não
conseguiam espaço, ficavam amuados e deprimidos. Alguns adoeceram e
morreram. Teve um que roía a tela, na tentativa de fugir.
Isto não era bom. Os outros passarinhos do viveiro
também eram importantes para o criador. Tinham seu valor. Durante
muito tempo garantiram o lugar de destaque do viveiro nas
competições.
O passarinho destaque continuava a ganhar prêmios e
mais prêmios, mas é ruim depender de um único indivíduo. E se
algo acontecesse com ele?
O criador começou a ficar preocupado, algo precisava
ser feito, mas o que ?
Um dia, após uma noite insone, o criador levantou mais
cedo e ficou por horas observando o viveiro.
Observar antes de agir é
muito bom.
De repente ele entendeu o que estava acontecendo, o
passarinho não cabia mais no viveiro, seu talento já extrapolava os
limites das telas.
E pior, sem querer, ele desestabilizava toda a
comunidade.
O criador então, num gesto de desapego e compreensão,
dirigiu-se até o viveiro, abriu a porta e, com cuidado, tomou o
passarinho em suas mãos.
Mesmo sabendo que não seria entendido, falou-lhe de
sua estima, e prometeu que ali sempre seria sua casa, que nunca lhe
faltaria uma porção de alpiste.
Abriu as mãos e o soltou.
O passarinho fez um voo curto, um tanto perdido com
tamanho espaço, e pousou próximo. Exitou por alguns minutos, e voou
para o bosque. O criador suspirou, sem saber se fizera a coisa certa,
mas como já estava feito, voltou aos seus que fazeres.
Ao final do dia, como prometera, encheu uma caixinha
com alpiste, e pendurou do lado de fora do viveiro.
No dia seguinte, cedo, ao abrir a porta, viu o recém
liberto comendo na caixinha. Quando se satisfez cantou um pouco, como
que agradecendo, e voltou para o bosque.
Passados dois ou três dias, um por um os outros
passarinhos do viveiro começaram a cantar novamente, e ao final de
duas semanas, o equilíbrio já havia retornado.
Do bosque se ouvia, mesmo ao longe, o canto do
passarinho especial, e uma coisa nova acontecia. Por influencia dele,
os outros passarinhos do bosque melhoraram o canto. Foi quando o criador sentiu que havia feito a coisa
certa.
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Se você é líder, talvez já tenha passado por uma
situação semelhante (ou está passando). Um membro da equipe cresce tanto que já não cabe mais
na equipe, e começa a desestabilizar o grupo.
Abra a porta da gaiola e deixe-o voar. Ajude-o a
encontrar um lugar em outra equipe ou projeto onde ele será mais
útil, onde ele possa crescer e influenciar os outros a crescer
também.
E não esqueça de deixar uma caixinha de alpiste. Ele
pode precisar voltar de vez em quando.
Um Abraço Fraterno,
Antonio Canhedo