"Assim que por seus frutos os conhecereis."
(Mt VII,20)
Imagine você uma árvore doente, dando frutos
defeituosos, alguns até podres. Agora imagine o agricultor tentando
resolver o problema atuando sobre os frutos. Colocando remédio
diretamente nos frutos, dando polimento com um pano em alguns,
isolando outros para que não fiquem doentes pela proximidade com os
demais, chegando a remover e jogar fora os que estão podres. E nunca
entendendo porque a árvore não melhora.
Você deve estar pensando que atuar somente nos frutos
não resolve e nem remedia o problema. A planta está doente. E como
tratar uma planta doente? Tratando a raiz.
Agora compare esta árvore com a sociedade. Os frutos
da sociedade são os cidadãos. Quando os cidadãos começam a se
tornar criminosos, é por que a sociedade está doente.
Não adianta aplicar as soluções sobre os cidadãos,
tentar maquiar os comportamentos criando leis cada vez mais sem
sentido, incapazes de reger o comportamento destes cidadãos. Isolar
os que ainda não foram contaminados só retarda a contaminação,
mas não impede. Prender os que se tornam insuportáveis, ou partir
para a barbárie de executá-los não surte efeito benéfico nenhum
nos demais.
Assim como, para produzirmos frutos sadios temos que
tratar a árvore, para termos cidadãos socialmente sadios, temos que
tratar a sociedade.
E tratá-la na sua raiz.
A raiz da sociedade está na instituição familiar.
Os remédios, os programas, a educação e saúde,
enfim, as soluções devem ser direcionadas às famílias.
Não tenho dados estatísticos em mãos, mas, afirmo
com segurança que, na quase totalidade dos casos de pessoas que
enveredam pelo caminho do crime, sempre temos como ponto de partida
uma família sem estrutura. E não estou falando de família pobre,
estou falando de família sem estrutura, principalmente moral.
O professor Içami Tiba tem uma frase forte que
exemplifica bem isto :
"A mãe que leva seu filho à igreja, não vai
buscá-lo na cadeia".
Mas não é só frequentar uma igreja que vai resolver
tudo. A frequência na igreja ajuda a formar as bases morais, mas
existe todo um trabalho grande a ser feito.
Educação (de qualidade) também é um componente
essencial. Saúde, eficiente e de fácil acesso. Cultura, na forma de
música, teatro, cinema, museus, zoológicos, com preços acessíveis,
e tudo passado pelo filtro do bom senso, pois cultura que nos exorta
a hábitos desagradáveis e desrespeitosos só piora.
Trabalho digno é de suma importância. Aqui cabe um
aparte: a legislação em vigor chama indiscriminadamente o trabalho
de menores de idade de exploração. Cria-se nas crianças a ideia
que trabalhar é ser explorado, que trabalho é uma coisa ruim.
Então, os pequenos trabalhos domésticos que antigamente se atribuía
aos menores, tais como recolher o lixo, arrumar o quarto, lavar o
prato que usou, ou até dos demais membros da família, a divisão de
tarefas do lar, que tem a função de desenvolver o entendimento que
numa sociedade todos tem que fazer a sua parte, por menor que seja,
passam a ser encarados como exploração, e o indivíduo cresce
entendendo que todos a sua volta tem obrigação de cuidar dele.
Estamos criando uma geração de egocêntricos, que acreditam que o
mundo orbita em torno deles.
Falar em levar os pequenos para aprender o ofício do
pai ou da mãe então, é passível de cadeia.
Existe sim a exploração do trabalho infantil, mas é
preciso separar o que é exploração de aprendizado. Mas isto é uma
discussão para outro artigo. O ponto que quero chegar é que é
importante habituar as crianças com os rudimentos da
responsabilidade, para que quando forem adultos, possam se adaptar a
responsabilidade propriamente dita, com naturalidade, sem choques e
sem imposições, conscientes de que o seu direito é proporcional ao
dever cumprido.
Numa sociedade onde é cada um por si, não é possível
desenvolver um ambiente saudável e fraterno.
Se queremos consertar o meio em que vivemos, comecemos
pela raiz, comecemos pela família.
Você faz parte de uma, talvez como pai ou mãe, ou
como filho, ou tem um circulo de amigos.
Comece desde já a cultivar nas pessoas a sua volta uma
sociedade melhor, dê o exemplo, aconselhe a seguir o caminho da
coletividade, do respeito ao direito e espaço do outro, não dando
espaço aos apelos da mídia perniciosa. Ensine as crianças, mesmo
que não sejam seus filhos, dando bons exemplos.
Faça a sua parte, por menor que ela pareça.
Um pouquinho de adubo na raiz sempre ajuda.
Um Abraço Fraterno
Antonio Canhedo