Alfredo não se sentia
bem, acabara de discutir com sua esposa por um assunto banal. O
assunto em si não constituía a causa da discussão, na realidade
era a falta de recursos financeiros para sanar as contas que afeta os
ânimos de qualquer um. E aquele não era um casal diferente. As
vibrações ficam num baixo padrão e por qualquer motivo se discute,
não raras vezes trocando ofensas e acusações que, depois com a
cabeça fria, nenhum dos dois sabe por que falou. Mas agora já era
tarde, Discutiram. Cada um foi para um canto da casa.
Ele então foi para
porta dos fundos, olhou para o quintal e viu o capim já alto,
necessitando de capina. Tomou então de uma enxada velha e cega e
avançou para cima do capim. Não foi criado no interior, não tinha
intimidade com esta ferramenta, mas mesmo assim avançou. Os
primeiros golpes foram com raiva, como se a pobre erva fosse a
culpada de tudo. Arrancou mais torrões de terra de que capim, mas
continuou avançando, continuando mentalmente a discussão que havia
interrompido em casa. Depois de algum tempo os golpes se suavizaram e
menos terra era arrancada deixando um rastro limpo até que razoável.
A raiva passou para tristeza. Continuando a discussão mental, passou
a enumerar as coisas boas e os sacrifícios que fazia em prol da
família, e até mesmo para satisfazer alguns caprichos da
companheira, e se julgava injustiçado, vítima até da falta de
reconhecimento. Não que fosse um exemplo de homem, mas na sua
concepção merecia um tratamento melhor e mais reconhecimento. As
lágrimas começaram a escorrer pelo rosto. Olhou para traz para ver
se a esposa estava na porta, depois olhou em volta para se certificar
que nenhum vizinho assistia, não que tivesse vergonha de chorar, mas
aquele era um momento seu.
A área com capim
diminuía aos poucos, e o terreno limpo atrás de si aumentava. Secou
o rosto com a manga da camisa e continuou. Da discussão mental
passou a reflexão sem perceber. Começou então a fazer um mea
culpa, reconhecendo que, se a esposa fôra injusta em suas acusações,
ele também tinha sua parcela de culpa de igual tamanho, talvez
maior, que muitas vezes ele também não tinha ouvidos para as
reclamações justas dela, também não compreendia os problemas dela
como gostaria que ela compreendesse os seus, não parava para avaliar
que esta situação era penosa para ela também. Começou a pedir
mentalmente perdão a ela por tudo que havia feito e começou a
planejar mudar seu comportamento, traçou até um plano para discutir
com ela, quando a poeira abaixasse é claro, de como melhorar as
finanças. A calma aos poucos retornou ao seu coração e o
sentimento de raiva deu lugar a uma ternura dolorida por ter sido tão
rude com ela, e as lágrimas novamente brotaram. Parecendo que como
uma resposta, como se estivesse lendo seus pensamentos, ouviu a voz
dela chamando da porta:
-Amor, já está
tarde. Entre, tome um banho enquanto eu termino a janta.
Se deu conta então de
que já estava escurecendo, olhou para traz, viu admirado o tamanho
da área que havia limpado. Para quem não tinha prática na enxada
até que era bem grande.
-Já vou amor.
Secou discretamente as
lágrimas e entrou, indo direto para o chuveiro.
Sentou-se a mesa e
contemplou o jantar simples mas esmeradamente preparado. Ela havia
até colocado sob a garrafa de água um paninho decorado. A ternura
dolorida voltou ao peito, mas ele se controlou para não chorar,
novamente não por vergonha, mas não queria correr o risco da esposa
sentir algum tipo de constrangimento.
Terminaram o jantar,
ela lavou a louça, ele secou e guardou. Foram para a sala,
assistiram o jornal e a novela. Terminada a programação, foram para
o quarto, trocaram de roupa e se deitaram para dormir. Alfredo então
abraçou a esposa, deu-lhe um beijo na cabeça, sentindo o suave
perfume de seus cabelos e disse:
-Te amo Amor,
durma com Deus.
-Também te amo,
durma com Deus, ela respondeu.
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Nenhum de nós é tão
herói a ponto de não se abalar com os problemas do dia a dia.
Alguns são realmente grandes e pesados, outros são aumentados
exageradamente por nós. Muitas vezes estes problemas de irritação
nos levam a cometer desatinos. Partimos para a agressão física, ou
nos entregamos ao álcool ou as drogas, ou as más companhias.
Sempre que nos virmos
em semelhantes situações, busquemos o recolhimento no trabalho e na
reflexão. O trabalho é abençoado pelo Criador, e sempre que nos
entregarmos a alguma atividade útil estaremos assistidos por Ele e
por seus mensageiros, que nos socorrerão sem demora, semeando
pensamentos construtivos e bons, de forma a nos reconduzir ao
equilíbrio a reparação das nossas faltas.
Lembre-se sempre que, o
trabalho é a melhor terapia.
Um Abraço Fraterno
Antonio Canhedo