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quinta-feira, 30 de junho de 2011

O trabalho é a melhor terapia


          Alfredo não se sentia bem, acabara de discutir com sua esposa por um assunto banal. O assunto em si não constituía a causa da discussão, na realidade era a falta de recursos financeiros para sanar as contas que afeta os ânimos de qualquer um. E aquele não era um casal diferente. As vibrações ficam num baixo padrão e por qualquer motivo se discute, não raras vezes trocando ofensas e acusações que, depois com a cabeça fria, nenhum dos dois sabe por que falou. Mas agora já era tarde, Discutiram. Cada um foi para um canto da casa.
           Ele então foi para porta dos fundos, olhou para o quintal e viu o capim já alto, necessitando de capina. Tomou então de uma enxada velha e cega e avançou para cima do capim. Não foi criado no interior, não tinha intimidade com esta ferramenta, mas mesmo assim avançou. Os primeiros golpes foram com raiva, como se a pobre erva fosse a culpada de tudo. Arrancou mais torrões de terra de que capim, mas continuou avançando, continuando mentalmente a discussão que havia interrompido em casa. Depois de algum tempo os golpes se suavizaram e menos terra era arrancada deixando um rastro limpo até que razoável. A raiva passou para tristeza. Continuando a discussão mental, passou a enumerar as coisas boas e os sacrifícios que fazia em prol da família, e até mesmo para satisfazer alguns caprichos da companheira, e se julgava injustiçado, vítima até da falta de reconhecimento. Não que fosse um exemplo de homem, mas na sua concepção merecia um tratamento melhor e mais reconhecimento. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto. Olhou para traz para ver se a esposa estava na porta, depois olhou em volta para se certificar que nenhum vizinho assistia, não que tivesse vergonha de chorar, mas aquele era um momento seu.
          A área com capim diminuía aos poucos, e o terreno limpo atrás de si aumentava. Secou o rosto com a manga da camisa e continuou. Da discussão mental passou a reflexão sem perceber. Começou então a fazer um mea culpa, reconhecendo que, se a esposa fôra injusta em suas acusações, ele também tinha sua parcela de culpa de igual tamanho, talvez maior, que muitas vezes ele também não tinha ouvidos para as reclamações justas dela, também não compreendia os problemas dela como gostaria que ela compreendesse os seus, não parava para avaliar que esta situação era penosa para ela também. Começou a pedir mentalmente perdão a ela por tudo que havia feito e começou a planejar mudar seu comportamento, traçou até um plano para discutir com ela, quando a poeira abaixasse é claro, de como melhorar as finanças. A calma aos poucos retornou ao seu coração e o sentimento de raiva deu lugar a uma ternura dolorida por ter sido tão rude com ela, e as lágrimas novamente brotaram. Parecendo que como uma resposta, como se estivesse lendo seus pensamentos, ouviu a voz dela chamando da porta:
          -Amor, já está tarde. Entre, tome um banho enquanto eu termino a janta.
           Se deu conta então de que já estava escurecendo, olhou para traz, viu admirado o tamanho da área que havia limpado. Para quem não tinha prática na enxada até que era bem grande.
           -Já vou amor.
           Secou discretamente as lágrimas e entrou, indo direto para o chuveiro.
           Sentou-se a mesa e contemplou o jantar simples mas esmeradamente preparado. Ela havia até colocado sob a garrafa de água um paninho decorado. A ternura dolorida voltou ao peito, mas ele se controlou para não chorar, novamente não por vergonha, mas não queria correr o risco da esposa sentir algum tipo de constrangimento.
           Terminaram o jantar, ela lavou a louça, ele secou e guardou. Foram para a sala, assistiram o jornal e a novela. Terminada a programação, foram para o quarto, trocaram de roupa e se deitaram para dormir. Alfredo então abraçou a esposa, deu-lhe um beijo na cabeça, sentindo o suave perfume de seus cabelos e disse:
          -Te amo Amor, durma com Deus.
          -Também te amo, durma com Deus, ela respondeu.

                                                   *************************

           Nenhum de nós é tão herói a ponto de não se abalar com os problemas do dia a dia. Alguns são realmente grandes e pesados, outros são aumentados exageradamente por nós. Muitas vezes estes problemas de irritação nos levam a cometer desatinos. Partimos para a agressão física, ou nos entregamos ao álcool ou as drogas, ou as más companhias.
           Sempre que nos virmos em semelhantes situações, busquemos o recolhimento no trabalho e na reflexão. O trabalho é abençoado pelo Criador, e sempre que nos entregarmos a alguma atividade útil estaremos assistidos por Ele e por seus mensageiros, que nos socorrerão sem demora, semeando pensamentos construtivos e bons, de forma a nos reconduzir ao equilíbrio a reparação das nossas faltas.
           Lembre-se sempre que, o trabalho é a melhor terapia.

Um Abraço Fraterno
Antonio Canhedo

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