O termo Religião
vem sendo usado há muito tempo
como sinonimo de seita, ou até mesmo com uma conotação politico
partidária, dividindo as pessoas em grupos cada vez maiores, que se
consideram, de alguma maneira, melhor que os outros grupos por serem os
detentores da Verdade.
Grupos
estes sempre dotados de complicadas estruturas hierárquicas, sempre
havendo um líder supremo, ao qual são subordinados outros líderes
em menor escala, subdividindo em outros níveis de liderança, até
chegar aos fiéis na base da pirâmide. Mas neste nosso ensaio não
vamos nos ater a entender as estruturas destes grupos.
A
nossa proposta neste momento é tentar explorar religião não como
seita, e sim como conceito. A
etimologia da palavra religião é um tanto confusa, e não nos
serviria neste estudo.
Para
facilitar o entendimento de como quero conduzir este raciocínio,
considere que temos outros conceitos, digamos gerais, que depois se
subdividem em formas que deixam de ser o conceito em si, para se
tornarem substantivos, como por exemplo o conceito Ciência,
que engloba o conhecimento claro e objetivo de diversas coisas, de
forma que sejam compreendidas por regras bem claras e específicas, e
possam ser reproduzidas e até universalizadas, sendo subdividida em
várias ciências, ciências humanas, ciências exatas, e etc. Na
mesma ótica, temos a Política, a
Saúde, a Filosofia,
e outros conceitos que, em maior ou menor grau, seguem a mesma
dinâmica.
A
religião é aquele sentimento inato de que existe algo superior que
é a causa primária de todas as coisas. A ideia da existência da
Divindade é facilmente construída em nós pelos nossos primeiros
educadores (geralmente os pais) graças a este sentimento inato, e a
partir daí todo um conjunto de regras e valores que vão formar a
nossa ética pessoal, que não é necessariamente universal. Esta
ética vai sofrendo mutações ao longo da nossa vida a medida que
vamos vivenciando experiências e recebendo as impressões da ética
das pessoas com quem convivemos. Aí também vemos um fenômeno não
raro, que poderíamos chamar de aleijados morais,
que são indivíduos que tem pleno conhecimento das regras, tendo
consciência do que é certo ou errado, e ao cometerem erros
simplesmente não sentem remorsos.
A
influencia que sofremos ao longo da formação da nossa personalidade
acaba nos levando ao engajamento a algum grupo religioso, adotando
seu rótulo. Passamos então a dar muito valor a forma, as rotinas e
aos rituais, submetemo-nos ao comando hierárquico deste grupo, e
geralmente sentimos um vazio por saber inconscientemente que isto
preenche o nosso tempo, mas não responde as nossas perguntas: De
onde viemos e para onde vamos? A nossa individualidade começa com o
nosso nascimento, ou já existia antes? Por que uns parecem tão
felizes contrastando com verdadeiras desgraças convivendo no mesmo
meio? Qual o sentido da vida?
Quando
estes braseiros se acendem dentro de nós é um bom momento para
buscarmos recolhimento e meditar.
A
Religião não é a
nossa seita, é A Causa Primária
que reivindica dentro de nós o seu espaço. Pouco importa se você a
chama de Deus, Alá, Mãe Natureza, o que importa é que Ela existe.
Ela nos diz que viemos todos da mesma matéria-prima, embora sejamos
individuais, que ninguém é melhor ou pior do que ninguém, e por
isso não existem posições de lideres e liderados por direito, e
sim posições momentâneas, de acordo com o merecimento, e que as
posições de liderança são antes de tudo missões como guias e
exemplos e não privilégios a servirem ao ego. Voltando nossa
atenção para esta voz interior compreendemos que Ela nos convida a
fazer aos outros aquilo que gostaríamos que eles nos fizessem, que
fazer aos outros felizes nos dá uma satisfação que nenhuma outra
coisa dá. Sentimos que Ela nos quer felizes também.
Não
somos capazes de compreender esta Causa Primária,
mas sentimos que nos quer progredindo, visto que nos compele a
reflexão, gerando em nós uma vontade, muitas vezes angustiante de
tão irresistível, de conhece-La e entende-La.
Caro
leitor, não quero que você abandone o grupo do qual faz parte, isto
seria radical demais, e feito de forma abrupta pode causar estragos.
Quero sim convidá-lo a reservar um tempo nas suas horas diárias
para começar e refletir na Religião
pura, não como seita, mas como conceito. Procurar ouvir esta voz
que nunca se cala, que quando não ouvida é por que não lhe damos
atenção. Reflita sobre as mensagens puras e simples que Ela nos dá.
Procure aproximar-se destes sentimentos básicos de fraternidade.
Certa
vez li em um livro que o maior pecado da Ciência foi
ter se afastado da Religião.
As duas vem da mesma fonte e deveriam sempre ser observadas de uma
forma inter-relacionada, a Religião
ser observada de uma forma científica, e a Ciência
ser observada de uma forma religiosa. A observação separada é que
dificulta nossa compreensão da Causa Primária.
Não
aceite o separatismo de grupo. Aproxime-se mais da Religião,
compreenda-a, de forma desarmada, sem pressa, sem cobranças, e
divida com as outras pessoas as suas impressões puras.
Se
quiser, divida-as também com este pretenso escritor, pois também
anseio por entender a voz da Causa Primária.
Um
abraço fraterno,
Antonio
Canhedo
Prezado Antonio Canhedo, chegamos a um tempo em que ter uma religião soa quase como um pecado. Quem é devasso é tido como livre. Fim dos tempos.
ResponderExcluirCaro Daladier,
ResponderExcluirEm tempos como esse, o estudo desapaixonado da moral dO Cristo se faz imperioso.
Obrigado por seu comentário.